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A
S
MUDANÇAS
DE
COMPOSIÇÃO
,
INTENSIDADE
E
DURAÇÃO
DO
DESEMPREGO
URBANO
ENTRE
1999
E
2009:
UM
OLHAR
SOBRE
O
DESEMPREGO
DE
LONGO
PRAZO
O modelo keynesiano
Diante de uma elevação na taxa de desemprego durante a
Grande Depressão
6
, Keynes se
dedicou a compreender a existência de desemprego involuntário no sistema econômico
e a explicar por que a livre força de mercado não era suficiente para conduzir o sistema ao
pleno emprego.
A lógica de funcionamento do modelo neoclássico pode ser resumida da seguinte forma: o
ponto de partida é a fixação do salário real no mercado de trabalho a partir da demanda e
oferta, o salário real determina o nível de emprego, que aplicado na função de produção de-
termina a produção (oferta) e a renda. Como a oferta gera a sua própria demanda (Lei de Say),
toda a renda gerada é consumida. Dessa forma, a livre atuação da força de mercado induz a
economia ao equilíbrio com pleno emprego.
O modelo keynesiano inverte essa lógica de funcionamento: Keynes rejeita a Lei de Say e
demonstra que é a demanda que determina a oferta.
O empresário decide produzir se tiver a expectativa de que irá vender os seus produtos.
A
Demanda Efetiva
é que determina a produção e o volume de emprego. Para Keynes, o
equilíbrio macroeconômico entre oferta e demanda poderia ser estabelecido a qualquer
nível de produto e emprego, por isso chamou a sua teoria de “geral”
7
. Isso significa que o
sistema econômico pode alcançar o equilíbrio com desemprego involuntário, ao contrário
do pensavam os neoclássicos.
Segundo Keynes, a existência de desemprego involuntário se deve à insuficiência de deman-
da efetiva. Nesse sentido, de nada adianta reduzir salário para aumentar o nível de emprego,
pois isso poderia elevar ainda mais o número de desempregados ao reduzir a expectativa de
venda dos empresários.
O Princípio da Demanda Efetiva e o nível de emprego
Para Keynes, o empresário decide contratar trabalhadores para produzir com base em ex-
pectativas quanto ao volume de receita monetária que ele espera receber pela venda da
produção.
Nesse caso, a oferta agregada (Z) corresponde ao valor da receita monetária da produção,
que por sua vez é resultante do emprego de (N) trabalhadores, que leva em conta a téc-
nica de produção e o custo do trabalho e que considera a demanda agregada (D) o valor
da receita monetária esperada pelo emprego de (N) trabalhadores. Assim, a situação cor-
responde a:
A demanda agregada revela o volume de receita esperado para cada nível de emprego, sen-
do que haverá um incentivo que leva os empresários a aumentarem o emprego acima de N
6. O início da Grande Depressão é marcado pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, o que agravou
os efeitos da recessão pela qual os EUA já passavam. O processo continuou ao longo da década de 1930, atingindo
também, entre outros, países das Américas, da Europa.
7. No primeiro capítulo de
A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda
, Keynes critica a teoria clássica ao chamá-la de
“particular” e intitula a sua teoria econômica de “teoria geral”. Segundo ele, os postulados da teoria clássica se aplicam
apenas a um caso especial e não ao caso geral, pois a situação que ela supõe acha-se no limite das possíveis situações
de equilíbrio. Ademais, as características desse caso especial não são as da sociedade econômica atual, de modo que
os ensinamentos daquela teoria seriam ilusórios e desastrosos cas se procurasse aplicar essas conclusões aos fatos da
experiência (KEYNES, 1982, p.23).
Para Keynes, de
nada adianta
reduzir salário
para aumentar
emprego, pois
pode elevar ainda
mais o número de
desempregados.